terça-feira, 17 de novembro de 2009

João Rosa, pescador


Texto e fotografia de Glinnys Sousa

Chama-se João Rosa, tem 49 anos e desde os 14 que é pescador na Costa da Caparica, onde nasceu. Ele é filho de um padeiro e neto de um pescador.

Seguiu as pisadas do avô,“por acaso”: “Andávamos na escola e nas férias do verão vínhamos trabalhar com os pescadores, para ganhar uns trocos”, contou.

“Aprendíamos a arte da pesca uns com os outros”. João falou com a repórter do D.A.R. à Costa no seu ateliê, o número 20. Trabalhava descalço e em tronco nu, armando a rede de pesca com uma navalha na mão.

“Pesco o ano todo. O patrão não me dá férias”, brinca. O pescador conta-nos que tem um barco vermelho chamado Tita, atracado na Cova do Vapor. É com ele, e com as redes que arma agora, que logo à noite vai pescar. “No Verão apanhamos linguados e no Inverno pescamos robalos, sargos e chocos”, explica.

“ Antigamente a pesca era melhor. Havia mais peixe, precisávamos de menos rede, era mais fácil”, disse. João despediu-se com o desafio: “A menina havia de vir à pesca para ver como é”, disse. Desafio aceite, que venha outra história!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

As couves antes da estrada



Antes de chegar à praia, entre a estrada e o mar, há dezenas de hectares de terrenos cultivados, entre o bairro clandestino.

A terra das Terras da Costa dá brócolos, couve de coração, batatas, lombardos, couves portuguesas. Desta terra dependem mais de 50 famílias.

Paulo Gomes, 42 anos, vive disto. Olhos verdes e cara queimada pelo sol, está descalço, pés com terra, depois de um dia de trabalho.

“Há 30 anos que os meus pais têm estas terras”, conta ao Repórter por um dia. “Temos três hectares, divididos por quatro hortas”.

Paulo exiplica ainda que “de inverno a terra é mais fértil do que no verão”, mas garante que a terra das Terras da Costa “é fértil todo o ano”.

Os produtos que Paulo cultiva, com a ajuda dos seus pais e de dois empregados, são vendidos no mercado abastecedor de Lisboa.

Ele conta ainda que está preucopado “com a nova estrada que se diz que vão construir” para facilitar o trânsito da Costa dos dias de sol: “Já ouvi duas versões. Uma prejudica as hortas menos do que a outra, mas as duas vão fazer alguma diferença. Vivemos daqui, fazemo isto desde sempre”.

Também Vitória, 64 anos, há 20 a trabalhar aqui, “precisa disto para comer”. Cultiva, “das 8h às 17h, desde sempre”. É empregada de Paulo. Caboverdiana, jeitos envergonhados, carrega caixas de madeira com couves portuguesas, acabadas de colher.

“Ouvi falar da estrada, mas não sei dizer mais. Não sei o que vai ser da vida. Ganho pouco, mas ganho. Se acabam com estas hortas não ganho nada, não tenho do que viver”, afirmou.

Enquanto a estrada não chega, os agricultores da terra das Terras da Costa, como Paulo e Vitória, cultivam no tempo que resta, com o carinho de sempre.